A história de um dos médiuns mais conhecidos do Brasil. Desde a infância, Divaldo (Bruno Garcia) sentia que algo especial o cercava. Já maior e com o apoio de sua mãe (Laila Garin), ele decide sair de Feira de Santana, Bahia, para desenvolver seu dom. Rumo ao desconhecido, o médium conta com a ajuda de sua guia espiritual, Joanna de Ângelis (Regiane Alves), ao longo de sua árdua trajetória.
Comparado a Chico Xavier, mas pouco conhecido fora da religião espírita, o baiano Divaldo Pereira Franco, 92, terá sua história contada no filme “Divaldo - O Mensageiro da Paz”, que estreia nos cinemas em 12 de setembro com Ghilherme Lobo, Regiane Alves, Bruno Garcia e Marcos Veras no elenco.
O espaço impressionante (que lembra um campus universitário) é o resultado de um trabalho iniciado por Divaldo Franco nos anos 1950 —história que é contada no filme.
Só a creche recebe 3.000 crianças por dia, com a ajuda de mais de 300 funcionários e 400 voluntários. Há uma escola fundamental, uma de ensino médio em construção, uma clínica de partos humanizados, uma padaria, uma farmácia e isso é só começo do que a instituição faz gratuitamente. Claro, há ainda, um centro espírita que faz parte do conglomerado.
Franco começou esse trabalho em uma pequena casa, onde acolhia crianças carentes, que adotou como seus filhos. Há diversos desses filhos hoje que trabalham na instituição como funcionários. “Começamos com uma escola à sombra de uma mangueira. Arrumamos caixotes de cebola para fazer carteira e no quintal nós dávamos aula. Aí nasceu esse ideal de educar”, afirma Divaldo.
A Mansão do Caminho passa a sensação de bioma perfeito por estar ao lado de uma comunidade perigosa, mas passar uma sensação de extrema segurança. “Nunca houve nenhum incidente de violência aqui dentro, nem cigarro acendem por aqui”, conta o professor e médium.
Franco acredita que a ideia poderia ser replicada pelo Brasil quando houver alguns princípios mais bem definidos. “Allan Kardec perguntou aos espíritos qual era a grande solução para o problema da humanidade e a resposta foi: a educação", conta ele. "Não aquela que se adquire pelos livros, mas aquela que tem a ver com as qualidades morais, porque elas combatem o materialismo e a crueldade”, define ele.
Hoje considerado o principal nome do espiritismo no Brasil, o feirense Divaldo Pereira Franco se vê, aos 92 anos, homenageado nas telas de cinemas de todo o Brasil. Com grande elenco, Divaldo – O Mensageiro da Paz agrega de forma simples e sem levantar muitas bandeiras, mais um registro da trajetória do espírita que continua em plena atividade.
Dividido em três fases (infância, adolescência e fase adulta), o público é convidado a acompanhar as descobertas pessoais e espirituais de Divaldo. Desde o primeiro contato com a espiritualidade, as tentações terrenas, a fundação da Mansão do Caminho e sua primeira publicação psicografada, tudo está no filme.
No longa, João Bravo vive Divaldo Franco na primeira fase, Ghilherme Lobo na segunda, e Bruno Garcia na terceira. Mas é com Lobo que passamos a maior parte do tempo, desde a vinda para Salvador, em busca dos ensinamentos espíritas, até a fundação da Mansão do Caminho, com o amigo Nilson (interpretado por Bruno Suzano e Osvaldo Mil).
Pode parecer muita coisa, mas o roteiro de Clovis Mello, que também assume a direção, consegue condensar tudo isso em duas horas, sem parecer cansativo ou arrastado.
É interessante, inclusive, como o filme evita o panfletarismo na questão do espiritismo. Clovis não transforma o longa, em momento algum, como algo que afirma o certo ou errado. Ali está apenas uma história que de fato ocorreu.
Em entrevista para A TARDE, Clovis conta que desde criança é próximo da religião, apesar de não ser espírita. Ou seja, apesar de frequentar centros espíritas, nunca se dedicou aos estudos da espiritualidade.
O mesmo caso se aplica a Ghilherme Lobo. “Aprendi com o filme que não posso dizer que sou espírita. Afirmar categoricamente que você é um espírita envolve não só um estudo, mas também um trabalho”, conta o ator, que prefere ser chamado de “espiritualista”.
Lobo, inclusive, se mostra um grande ator em Divaldo – O Mensageiro da Paz, conseguindo abraçar a persona do espírita de forma ímpar, destacando-se entre os três protagonistas. Mais conhecido por seu papel em Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, o ator se mostra pronto para protagonizar novas e grandes produções.
Em diversos momentos, o ator precisa lidar com a ferocidade do personagem de Marcos Veras (o Espírito Obsessor que acompanha Divaldo desde a infância) e a calma e a doçura da personagem de Regiane Alves (Joanna de Ângelis, o espírito-guia de Divaldo).
Espiritismo x catolicismo
Clovis e Ghilherme acreditam que, apesar de estarmos num momento de discursos inflamados, o filme não deve receber ataques.
“O cara que vê um filme desse e ainda consegue ter força para atacar é um canalha. O Nelson Rodrigues falaria isso“, diz Clovis. “Acho que esse filme está imune a esses ataques. Eu estava com mais medo de pessoas invisíveis do que as visíveis“, complementa.
No filme, a maior autoridade espiritual é Joanna de Ângelis, e isso derruba qualquer conflito maior. “Ela está vestida de freira. Ela foi Santa Clara, então, evidentemente, em algum momento, existem embates espíritas de Divaldo e a igreja católica. Divaldo é o que é graças a esse espírito que viveu com São Francisco de Assis há 800 anos”, diz Clovis.
De qualquer forma, essa discussão fica em segundo plano, já que, no final das contas, este também é um filme cristão, onde a busca do protagonista é viver segundo as leis daquele mesmo Jesus Cristo da igreja católica.
* Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.