O comportamento caridoso não é algo espontâneo e natural em muitos de nós. Sê-lo, em determinadas circunstâncias, ainda nos causa um certo desconforto. E quantas são as desculpas que produzimos para não nos envolvermos com o próximo! É a falta de tempo, de recursos financeiros, de jeito... Por outro lado, quantas são as situações em que nos cobramos uma atitude de maior solicitude! Quantas são as atenções que dispensamos, justamente para abrandar nossas cobranças íntimas!
Para muitos indivíduos, a caridade consiste, basicamente, em doar aquilo que não lhes tem mais serventia e utilidade, acreditando que esse gesto seja o suficiente para caracterizá-los como pessoas caridosas.
Qual é, pois, o laço que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum contrato material, por nenhuma prática obrigatória. Qual o sentimento no qual se deve confundir todos os pensamentos?
É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para com todos ou, em outras palavras: o amor do próximo, que compreende os vivos e os mortos, pois sabemos que os mortos sempre fazem parte da Humanidade.
A Doutrina Espírita entende a caridade como um dever moral de todo homem e que não se resume apenas ao auxílio material. No Livro dos Espíritos, na questão 886, Allan Kardec pergunta aos espíritos superiores: “Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus”?
–Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. A caridade, portanto, reflete o princípio cristão fundamental de amor mútuo entre todos, independentemente da situação em que se encontrem, tendo aplicação no âmbito moral e material. O Evangelho Segundo o Espiritismo, que faz um estudo dos ensinos de Jesus, a comunicação do espírito Paulo, dá um bom panorama de como a caridade deve ser encarada:
“Meus filhos”, na máxima: Fora da caridade não há salvação, estão encerrados os destinos dos homens, na Terra e no céu; na Terra, porque à sombra desse estandarte eles viverão em paz; no céu, porque os que a houverem praticado acharão graças diante do Senhor. Essa divisa é o facho celeste, a luminosa coluna que guia o homem no deserto da vida, encaminhando-o para a Terra da Promissão. Ela brilha no céu, como auréola santa, na fronte dos eleitos, e, na Terra, se acha gravada no coração daqueles a quem Jesus dirá: Passai à direita, benditos de meu Pai. Reconhecê-los-eis pelo perfume de caridade que espalham em torno de si. Nada exprime com mais exatidão o pensamento de Jesus, nada resume tão bem os deveres do homem, como essa máxima de ordem divina… Meu amigo agradeça a Deus o haver permitido que pudésseis gozar a luz do Espiritismo. Não é que somente os que a possuem hajam de ser salvos; é que, ajudando-vos a compreender os ensinos do Cristo, ela vos faz melhores cristãos. Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiros espíritas e verdadeiros cristão são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam”. – Paulo, o apóstolo. (“Paris, 1860”.).
Entretanto, a caridade é uma disposição íntima ativa e dinâmica, que se manifesta das mais variadas formas: em pensamentos de bondade, em conselhos úteis, em alimento e recursos na hora certa, em força que reanima...
Tanto assim é, que o léxico traz como sua definição: “disposição favorável em relação a alguém em situação de inferioridade (física, moral, social etc.); compaixão, benevolência, piedade.” [3]
O autêntico comportamento caridoso é aquele que não espera ou exige reconhecimento, gratidão ou qualquer tipo de recompensa. E é justamente esse desapego dos resultados que caracteriza o indivíduo caridoso, pois ele se disponibiliza ao outro pela simples satisfação que isso lhe proporciona.
O que é preciso, então, para praticar a caridade benevolente? Amar ao próximo como a si mesmo. Ora, se se amar ao próximo tanto quanto a si, amar-se-o-á muito; agir-se-á para com outrem como se quereria que os outros agissem para conosco; não se quererá nem se fará mal a ninguém, porque não quereríamos que no-lo fizessem.
Mais cedo ou mais tarde o orgulhoso será castigado pela humilhação, o ambicioso pelas decepções, o egoísta pela ruína de suas esperanças, o hipócrita pela vergonha de ser desmascarado; aquele que abandona os Espíritos bons por estes é abandonado e, de queda em queda, finalmente se vê no fundo do abismo, ao passo que os Espíritos bons erguem e amparam aquele que, nas maiores provações, não deixa de se confiar à Providência e jamais se desvia do reto caminho; aquele, enfim, cujos secretos sentimentos não dissimulam nenhum pensamento oculto de vaidade ou de interesse pessoal.