Dona Amélia não dava paz. O filho, Lucas, tinha 30 anos, mas ela o tratava como se tivesse 3. Eram 30 ligações por dia. — "Já comeu?" — "Onde você está?" — "Quem é essa mulher com você?" Lucas sufocava, mas aceitava. "É o jeito dela, ela me ama demais", ele pensava. Um dia, o coração de Amélia não aguentou tanta ansiedade. Um infarto fulminante a levou.
O "Amor" que Mata
Amélia acordou. Mas não viu anjos, nem luz. Ela estava na sala da casa de Lucas. O rapaz estava no sofá, em profunda depressão, chorando, sem conseguir respirar direito. Desesperada, Amélia correu para abraçá-lo. — "Filho! Mamãe tá aqui! Eu não te deixei!" — ela gritava.
Mas cada vez que ela gritava e tentava abraçá-lo, algo terrível acontecia. Da boca dela não saíam palavras de consolo, mas uma fumaça preta e densa. Essa fumaça envolvia a cabeça de Lucas, entrando pelas narinas dele. O rapaz tossia, sentia o peito pesar, uma angústia terrível.
De repente, uma mão firme segurou o ombro de Amélia. Um mentor espiritual, sério e iluminado, a puxou para trás.
— "Solte-o, Amélia. Agora."
Amélia se debateu: — "Me larga! Eu estou protegendo ele! Ele não vive sem mim! Ele está sofrendo!"
O mentor respondeu com voz de trovão: — "Não, Amélia. É você que não vive sem controlá-lo. O que você chama de amor, aqui nós chamamos de vampirismo." — "Olhe para as suas mãos. Olhe para o pescoço dele."
Amélia olhou. O choque foi devastador. Não eram braços de carinho. Saindo das mãos espectrais dela, haviam correntes pesadas e escuras que se enrolavam no pescoço do filho como uma forca. Ela não estava abraçando. Ela estava asfixiando. A depressão dele era o peso da presença dela.
Amélia caiu de joelhos, chorando lágrimas de piche. — "Meu Deus... eu sou o monstro?"
O mentor explicou: — "O amor liberta, Amélia. O apego aprisiona. Enquanto você não cortar esse cordão, ele nunca vai respirar e você nunca vai subir."
Cuidado com o "amor" que não deixa o outro andar. O apego excessivo não é cuidado, é posse. E do outro lado da vida, a posse vira algema. Quem ama, deixa voar.
