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Espiritismo

A DESENCARNAÇÃO DE UM ATEU

Drauzio tinha um "defeito" grave aos olhos de muita gente na cidade: Ele era ateu convicto. Não pisava em igreja, não fazia orações e dizia que a morte era apenas o "fim da energia biológica". "Deus é uma invenção para consolar os fracos", ele dizia, polêmico.

Mas Drauzio tinha um detalhe... Enquanto os "fiéis" saíam do culto e ignoravam o mendigo na porta, Drauzio parava o carro e fazia curativos nas feridas dele. Enquanto muitos oravam pela cura, Drauzio virava três noites seguidas no hospital público, sem dormir, segurando a mão de pacientes terminais que não tinham família. Ele pagava os remédios dos pobres com o próprio salário. Ele operava de graça em suas folgas.

"Ele é um homem bom, pena que não tem salvação", diziam as vizinhas beatas.

Aos 70 anos, o coração generoso (e ateu) de Drauzio parou. Ele fechou os olhos esperando o "nada" absoluto, o escuro eterno em que tanto acreditava.

Mas ele acordou. E não foi no escuro. Drauzio abriu os olhos e viu uma luz dourada que parecia ter melodia. Sentiu um perfume de flores que não existem na Terra. Viu cores que seus olhos nunca tinham captado. Ao redor dele, uma multidão aplaudia. Eram ex-pacientes. Eram pessoas que ele ajudou. Todos sorrindo, jovens e saudáveis.

Drauzio ficou tonto. — Isso é uma alucinação — ele murmurou. — É o último disparo de neurônios do meu cérebro moribundo. Deus não existe. Isso não é real.

— É tão real quanto o amor que você distribuiu, meu filho.

Drauzio virou-se. Um homem de túnica simples, com pés descalços e olhar de galáxias, estava ali. A presença Dele fazia o Dr. Drauzio, que nunca se curvou a ninguém, cair de joelhos instintivamente.

— Senhor? — gaguejou o médico. — Mas... eu não acreditava em Você! Eu nunca rezei um Pai Nosso! Eu dizia que Você era um mito! Devo estar no lugar errado...

O Mestre sorriu e levantou o médico do chão. — Drauzio, preste atenção. Muitos chegaram aqui gritando meu nome o dia todo, com a Bíblia debaixo do braço, mas com as mãos vazias de caridade e o coração cheio de julgamento. Ele segurou as mãos do médico. — Você nunca falou o meu nome. Mas as suas mãos... olhe para elas. Elas estão cheias da minha essência. Você cuidou dos meus filhos quando ninguém mais queria tocar neles.

Drauzio chorou como criança. — Mas a religião... — ele tentou argumentar.

Jesus interrompeu, com doçura infinita: — Eu não olho para o rótulo da embalagem, Drauzio. Eu olho para o conteúdo. — A religião é o que você fala. Espiritualidade é o que você faz. Aqui no Céu não entra crachá de igreja, nem título de doutor. Aqui só entra o amor que foi praticado. Seja bem-vindo, meu bom e fiel servidor.

 Pare de julgar quem não tem a mesma fé que você. Deus não está preocupado com a placa na porta do templo, mas com a bondade guardada no coração. No final das contas, vale mais um ateu que ama o próximo do que um religioso que só ama a si mesmo.